29 de maio de 2011

Divagações acerca de legados filosóficos



Iniciando com um pensamento de Popper: "O conhecimento avança quando provamos uma falsa teoria". Talvez a essência da ciência seja mesmo a constante mutação fazendo-a evoluir passo a passo.
No entanto, algumas teorias , justamente por terem sido elaboradas por grandes pensadores, que tiveram seus nomes marcados na história, acabaram sendo aceitas por séculos sem terem sido questionadas- ou se foram, tais questionamentos não foram levados em consideração. Isso acabou , em termos, atrasando a evolução do conhecimento.
Um exemplo muito conhecido é o de Aristóteles , que com suas teorias sobre o movimento e a matéria , estagnou o desenvolvimento desses assuntos por séculos. Embora alguns pensadores antecessores de Aristóteles houvessem desenvolvido princípios corretos -corretos em relação à teorias que aceitamos hoje- sobre a origem e o comportamento do movimento e da matéria, Aristóteles os contestou e elaborou princípios não corretos que acabaram perdurando por séculos.
Além de Aristóteles, muitos outros cientistas e filósofos deixaram legados inapropriados - seria pretensão dizer ``errados``- para a ciência moderna.No que se diz respeito a produção científica , pode-se citar René Descartes que, nascido no século XVII, na França, foi uma das peças-chave da Revolução Científica.
Descartes deixou um legado incomensurável em diversos âmbitos da filosofia, matemática e ciência.Diversos especialistas afirmam que ele foi o pai do racionalismo moderno. No entanto, a visão de Descartes sobre a relação do homem com os animais causou e tem causado diversas consequências para a atividade de testes com animais nos estudos e na área de saúde e cosméticos.
Segundo Descartes, animais são seres desprovidos de almas, que não pensam e não sentem dor, sendo assim, os maus tratos não eram errados. A crueldade desmedida que presenciamos hoje com testes em animais advém dessa visão de mundo. Russeau responde a Descartes afirmando que os seres humanos também são animais. Outra resposta dada é a de Voltaire , em seu dicionário filosófico :
``Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será porque falo que julgas que tenho sentimento, memória, ideias? Pois bem, calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembra tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que tenho memória e conhecimento.Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce e sobe e vai de aposento em aposento e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas. Descobres nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Responde-me maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objectivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não inquines à natureza tão impertinente contradição. ``
A resposta de Voltaire dispensa maiores comentários.
O objetivo não é subestimar tais legados filosóficos que serviram de base para a ciência moderna, mas chamar atenção para a necessidade do questionamento das idéias como primeiro passo para se chegar a verdade.

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