18 de abril de 2011

Trocando as lentes

Perspicácia, Rene Magritte
"Nossos conceitos são assim como lentes em nossa visão da realidade. Tão habituados ficamos com os nomes e as imagens por meio das quais nos acostumamos a pensar as coisas do mundo, que esquecemos que esses conceitos não são a única tradução do mundo, mas aenas modos de recortá-lo, enquadrá-lo e, asssim, tentar compreendê-lo, deixando sempre algo de fora ou que pode ser recortado por outro ângulo, apreendido por outro conceito. Os conceitos não esgotam o mundo, não abarcam nunca a totalidade do real. (...)
Assim, um bom exercicio para renovar nossa visão do mundo é, às vezes, trocar as lentes, para ver as mesmas paisagens com olhos diferentes. Isso significa "desnaturalizar" os modos de ver que tínhamos como óbvios. Podemos fazer isso questionando conceitos já estabilizados em muitos campos da ciência humana, criando, dessa maneira, espaços para nosos aprendizados e para a renovação de alguns pressupostos de vida."
(Isabel Cristina de Moura Carvalho - Educação ambiental: formação do sujeito ecológico, 4ª edição).

13 de abril de 2011

"Depois da euforia cientista do século XIX e da consequente aversão à reflexão filosófica, bem simbolizada pelo positivismo, chegamos a finais do século XX possuídos pelo desejo quase desesperado de complementarmos o conhecimento das coisas com o conhecimento do conhecimento das coisas,  isto é, o conhecimento de nós próprios." 
(Boaventura de Souza Santos - Um discurso sobre as ciências na transição para uma Ciência pós-moderna).

Nos primórdios do pensamento racional, ciência e filosofia nasceram juntos e por muito tempo se confundiram. Utilizando como parâmetro a Grécia antiga temos os filósofos pré socráticos (também conhecidos como filósofos da natureza) que tinham como escopo especulativo o problema cosmológico e buscavam o princípio das coisas. Pode-se dizer que os filósofos foram os primeiros cientistas ou então que os cientistas foram os primeiros filósofos.

No entanto, com o passar do tempo a ciência ganhou uma complexidade cada vez maior em explicar os fenômenos naturais e cada vez mais começou a se afastar da filosofia. No século em que vivemos a ciência encontra-se muito avançada e cada vez mais temos acesso a estudos que nos levam à compreensão, pelo menos a nível fenomenológico, do universo. Mas e a compreensão de problemas fundamentais acerca da existência, do conhecimento, da verdade e dos valores morais seriam menos importantes?

Essa pergunta acaba por gerar uma série de outros questionamentos acerca do mesmo assunto. Embora a filosofia e a ciência tenham sido separadas pela civilização ao longo dos séculos, será possível produzir ciência sem nunca gerar qualquer pensamento filosófico novo e que seja possível filosofar sobre a realidade sem se reportar a ciência?  É possível a ciência avançar sem filosofia ou a filosofia avançar sem a ciência?

A ciência nos séculos que nos precedem, como é possível verificar, avançou deixando de lado a filosofia e direcionando-se puramente à tecnologia. O conceito de tecnologia implica técnicas, conhecimentos, métodos, materiais, ferramentas e processos usados para resolver problemas. O termo tecnologia também pode ser utilizado para descrever o nível de conhecimento cientifico, matemático e técnico de uma determinada cultura. Mas uma sociedade pode mesmo ser considerada desenvolvida usando como parâmetro o nível tecnológico? A China, por exemplo, é considerada um pólo importantíssimo de tecnologia, no entanto a população chinesa enfrenta muitos problemas sociais: mais de 26 milhões de chineses vivem na pobreza absoluta segundo as autoridades chinesas. E por fim os salários controlados pelo governo coloca os operários chineses entre os menos remunerados do mundo.
A tecnologia avança em prol dos interesses econômicos e nem sempre é associada à melhoria de vida da sociedade em geral

Com esse blog pretendemos abordar ciência, desenvolvimento e a ética envolvida nesse processo sob diferentes aspectos e pontos de vista, evidenciando aquilo que consideramos importante não deixar de discutir.